Rádio Extraclassse Kolping

domingo, 10 de abril de 2011

Mundo islâmico- Entenda os protestos contra queima do Alcorão

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Mais de vinte pessoas morreram e 100 ficaram feridas em cinco dias de violentos protestos ocorridos no Afeganistão. O motivo foi a queima de um exemplar do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, por pastores da Flórida, nos Estados Unidos.


As manifestações começaram em 1º de abril. Sete funcionários da ONU(Organização das Nações Unidas) morreram durante a invasão de um escritório na cidade de Mazar-i-Sharif. Nos dias seguintes, os distúrbios se espalharam pelas regiões norte e sul do país.

Também ocorreram protestos em outras nações muçulmanas, mas sem a violência registrada em território afegão. Isso porque no país, ocupado pelos Estados Unidos, a influência das milícias talebans alimenta o ódio aos ocidentais.

O Afeganistão é um país pobre, localizado na Ásia central, formado por diferentes tribos e grupos étnicos. O que une os 32,7 milhões de habitantes é o islamismo (80% sunitas e o restante, xiitas).

Após os ataques do 11 de Setembro, as tropas americanas tomaram a capital Cabul e depuseram o governo Taleban, que havia chegado ao poder depois de vinte anos de ocupação russa. O objetivo do governo norte-americano era forçar o Estado afegão a entregar o terrorista Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda e responsável pelos ataques às torres gêmeas.
 

Terry Jones

A intolerância, desta vez, partiu de um pastor cristão. Em 20 de março, um exemplar do Alcorão (ou Corão) foi queimado por dois pastores evangélicos em uma igreja americana da Flórida, diante 50 fieis.

Um dos pastores era Terry Jones, um fundamentalista cristão que ficou conhecido ao ameaçar queimar o Alcorão no ano passado, no aniversário de nove anos do atentado em Nova York.

Na época, a intenção do religioso era protestar contra o projeto de construção de um centro islâmico próximo ao Marco Zero, local onde era situado o World Trade Center. Ele desistiu depois de ser pressionado por autoridades políticas e religiosas, entre elas o presidente norte-americano Barack Obama e o Papa Bento 16.

Agora, o pastor queimou o livro sagrado alegando crimes cometidos contra humanidade pela fé islâmica. O ato foi condenado pelo presidente Obama e outros líderes políticos ocidentais. Mas isso não foi o suficiente para conter a onda de protestos nos países islâmicos.
 

Choque cultural

Islã ou civilização islâmica se refere aos povos que seguem a religião do islamismo, cujos fiéis são chamados muçulmanos ou islamitas. O islamismo foi fundado pelo profeta Maomé no século 7, na Arábia. A religião possui raízes comuns com outras duas crenças monoteístas, o cristianismo e o judaísmo.

O Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos, como é a Bíblia para os cristãos. Os islamitas consideram que a obra foi ditada a Maomé pelo arcanjo Gabriel.

A religião islâmica é predominante em mais de 50 países do Oriente Médio, Ásia, África e Europa, além de comunidades espalhadas pelo mundo todo, inclusive no Brasil.

As diferenças culturais e religiosas entre as civilizações Ocidental e Islâmica se acentuaram no século 20, quando as potências europeias invadiram países da África e do Oriente Médio. Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos chegaram a financiar grupos radicais para impedir o avanço do comunismo no mundo islâmico.

Uma diferença fundamental entre os povos muçulmanos e as sociedades ocidentais é que o Alcorão serve de base para a organização política e social. Tal fato acaba confrontando valores ocidentais como a democracia e os direitos humanos. No entanto, é errado confundir os seguidores da religião com terroristas e grupos extremistas, como a Al Qaeda, o Hamas e o Hezbollah.
 

Europa

A tensão entre os Estados capitalistas e as comunidades islâmicas têm se tornado mais comum nos últimos anos. Em 1989, o Irã decretou uma fatwa(sentença de morte) contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie. Ele foi acusado de blasfêmia em seu romance "Os Versos Satânicos". Desde então, passou a viver escondido e sob proteção policial, mesmo após o Irã suspender a condenação em 1998.

Em 30 de setembro de 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca, publicou 12 caricaturas intituladas "As faces de Maomé". As charges provocaram manifestações violentas, incêndio em embaixadas dinamarquesas e uma crise diplomática com países árabes. O redator-chefe do jornal, que foi ameaçado de morte, pediu desculpas publicamente.

Mais recentemente, países europeus votaram leis restritivas aos costumes islâmicos, em ações consideradas hostis pelos 15 milhões de muçulmanos que vivem no continente. Em 29 de novembro de 2009, a Suíça aprovou, mediante referendo, a proibição da construção de minaretes - torres de mesquita de onde se chamam os muçulmanos para as orações diárias.

Em 14 de setembro, o Senado francês aprovou uma lei que proíbe o uso de véus islâmicos integrais – a burka e o niqab - em espaços públicos do país. Os parlamentares alegaram questões de segurança, além de respeito aos direitos das mulheres. A lei deve entrar em vigor na próxima semana, o que deve reacender o debate na Europa.

 
Direto ao ponto volta ao topo
Violentos protestos contra a queima de um exemplar do Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, deixaram mais de 20 mortos no Afeganistão nos últimos cinco dias. Entre eles, estão sete funcionários da ONU, mortos durante conflitos ocorridos na região norte do país.

O Afeganistão é um país pobre, de religião muçulmana, que foi ocupado pelos Estados Unidos após os ataques do 11 de Setembro. As manifestações, portanto, acontecem num contexto de ódio às forças de ocupação estrangeira no país.

Em 20 de março deste ano, um exemplar do Alcorão (ou Corão) foi queimado por dois pastores evangélicos em uma igreja americana da Flórida, diante 50 fieis. Um dos pastores era Terry Jones, um fundamentalista cristão que ficou conhecido ao ameaçar queimar o Alcorão no ano passado, no aniversário de nove anos do atentado ao World Trade Center.

O choque cultural e religioso vem promovendo episódios de intolerância nos últimos anos. Em 1989, o Irã decretou uma fatwa (sentença de morte) contra o escritor anglo-indiano Salman Rushdie por conta do romance "Os Versos Satânicos". Em 2005, o jornal Jyllands-Posten, de maior tiragem na Dinamarca, publicou 12 caricaturas intituladas "As faces de Maomé", provocando manifestações violentas.

Mais recentemente, países europeus votaram leis restritivas aos costumes islâmicos. Em setembro de 2010, o Senado francês aprovou uma lei que proíbe o uso de véus islâmicos integrais – a burka e o niqab- em espaços públicos. A lei deve entrar em vigor na próxima semana.


Saiba mais

  • O Islã e o Ocidente: uma nova ordem política e religiosa pós-11 de Setembro(Loyola): livro de Robert Van de Weyer sobre o contexto político e religioso no mundo depois do atentado terrorista às torres gêmeas em Nova York.
     
  • Lawrence da Arábia (1962): clássico do cinema baseado na biografia de T.E. Lawrence (1888-1935), oficial inglês enviado à península arábica durante a Primeira Guerra Mundial.
Veja errata.
*José Renato Salatiel é jornalista e professor universitário.

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